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O que a NRF 2024 nos ensina sobre gestão de pessoas

Por Maria Eugênia Cerchi*

No maior evento de varejo do mundo, painéis e palestras ocorriam simultaneamente em quatro auditórios enquanto no primeiro piso do Javits Center uma gigantesca feira de expositores destacava o uso da tecnologia para gestão de processos, estoques, gôndolas e processamento de dados de consumidores.

O tema quente das palestras era o comportamento da geração Z, ou “Zexperience”, enquanto o ponto alto da feira de expositores eram os robôs que divertiam os visitantes com sua inteligência não mais tão artificial, tomando formas humanas e estampando em seus peitos de aço frases como “eu não me canso nunca, não cometo erros e trabalho longas e incessantes jornadas”. 

Em um estande à frente, câmeras equipadas com IA monitoravam a produtividade dos funcionários, contabilizando cada movimento, hora trabalhada e minutos de pausa. A hipervigilância me soou invasiva e incômoda, na contramão dos modelos fluidos de trabalho que se estabeleceram em todo o mundo no pós-pandemia.

Nada poderia estar mais distante do comportamento da geração Z. Nascidos entre 1995 e 2010, essa geração também conhecida como “nativos digitais”, detém altas habilidades tecnológicas, valoriza o ser em detrimento do ter, e tem pressa. Carrega uma visão empática do mundo e um conjunto de valores mais sofisticado. Valorizam sustentabilidade, mas não topam pagar a mais por ela. Buscam flexibilidade e rápida ascensão de carreira, mas o imediatismo as impede de construir carreiras sólidas, com baixa tolerância às frustrações e altas expectativas em relação ao mercado, políticas de benefícios e jornadas flexíveis. Em meio a essa dicotomia, como as lideranças devem se preparar para a gestão de equipes multigeracionais?

A palavra da vez é a plasticidade, o especialista em marcas Jacques Meir sumariza bem as principais lições da NRF 2024: as lideranças devem priorizar um novo conjunto de habilidades voltadas à maleabilidade e fluidez para acompanhar um mundo volátil e incerto e uma geração mais complexa e conectada. Neste contexto, a plasticidade se refere à capacidade de se adaptar e responder de forma ágil à uma realidade fluida e incontrolável.

O caminho seria então uma gestão atenta ao indivíduo, suas peculiaridades, necessidades e anseios individuais, um grau de personalização cada vez maior, que exige do líder autoconhecimento e habilidades de escuta e percepção apurada do outro, competências quase tão raras nos dias de hoje como a empatia e o respeito entre as gerações. Como liderar indivíduos e suas peculiaridades com equidade, sem praticar uma flexibilidade seletiva e despertar a insatisfação do time?

A lição que fica é, tenhamos um olhar menos preconceituoso às novas gerações que chegam para questionar nossas certezas e valorizemos a voz da experiência e toda a sua bagagem, resiliência e disciplina, até porque não existem atalhos para conquistas de valor, nem receitas ou garantias de que o que nos trouxe até aqui garantirá um futuro promissor. 

Que saibamos celebrar a riqueza das equipes diversas, que vai muito além de raça, gênero, faixa etária ou orientação sexual, mas a diversidade de ideias, repertórios, vivências e formas de enxergar o mundo que nos convidam a nos reinventar a cada dia e a nos livrar das lentes dos rótulos. E acima de tudo, que saibamos usar a tecnologia a nosso serviço, que sejamos plásticos, mas humanos.

*Maria Eugênia Cerchi é Gerente de Marketing Corporativo na Scala e associada do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP).

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