Uma organização exponencial é uma entidade cujo impacto é desproporcionalmente grande. Conheça as principais ferramentas que levaram as maiores empresas do mundo a exponencialidade
Por Stéfano Helou Frontini*
Estamos na era da tecnologia. Antigamente, 500 milhões de dispositivos estavam conectados à Internet; em 2018, este número chegou a 20 bilhões. Em 2010, 1,2 bilhão de adultos estavam on-line; em 2019, esse número atingiu quase 5 bilhões. São mais de um bilhão de fotos carregadas na Internet diariamente, números possíveis apenas por causa das organizações exponenciais que conectam milhares de indivíduos ao redor do mundo.
Neste ano, tivemos a presença ilustre de receber Salim Ismail em nosso 7º Fórum Liberdade e Democracia, Pioneiros – “Os indivíduos que mudam o mundo”. Salim é um grande empreendedor canadense, ex-chefe de Inovação do Yahoo e fundador da maior universidade de estudos exponenciais, a Singularity University (SU) juntamente com os inovadores Ray Kurzweil, um dos principais futuristas americanos da atualidade e Peter H. Diamandis, empresário grego-americano, fundador e presidente da X Prize Foundation. A SU nasceu em 2008 na sede do Research Park da NASA, com objetivo de criar uma comunidade global de criação e inovação baseada em tecnologias exponenciais que busca solucionar os principais desafios globais, como, por exemplo oferecer serviços básicos, reduzir o desemprego e aumentar expectativa e qualidade de vida a toda população mundial.
As organizações de crescimento exponencial são 10x melhores, mais rápidas e mais baratas que as empresas convencionais[1]. Seus programas são financiados por organizações como Google e Unicef que desafiam alunos e empreendedores a avaliar seus projetos com duas premissas em mente: i) organizar melhor as informações do mundo e ii) impactar positivamente mais de um bilhão de pessoas..
Michael Malone e Yuri Geest também foram coautores da obra em que baseio esse artigo. Os autores compilaram experiências, conteúdos, entrevistas, pesquisas e cases de sucesso de empresas com crescimento exponencial, de modo a criar uma receita de bolo.
Durante o 7º Fórum Liberdade e Democracia, Pioneiros – “Os indivíduos que mudam o mundo”, tivemos também o workshop do Gabriel Lima, CEO da Enext, consultoria de negócios digitais, que comentou sobre nosso momento atual de transformação digital possibilitado pelas das organizações exponenciais, reafirmando a frase de Lênin – “Há décadas onde nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. As seis empresas mais valiosas do mundo são plataformas digitais exponenciais e estima-se que 30% das transações comerciais globais serão mediadas por plataformas digitais dentro de 10 anos. No entanto, a pandemia acelerou essa tendência de transformação digital em todas as indústrias: o turismo vive o compartilhamento de espaços, experiências e personalizações; a medicina se adapta com a telemedicina e novas regulamentações; o setor de energia está focado em energias limpas e renováveis com a escalabilidade da indústria de automóveis elétricos.
Nesse sentido, leia o artigo que escrevi sobre Elon Musk, pioneiro na viabilidade da produção em escala de carros elétricos com sua empresa Tesla, no livro Pioneirismo disponível gratuitamente em PDF e ebook. Elon Musk não tinha experiência no setor automotivo, muito menos com carros elétricos, porém, com sua mentalidade empreendedora, viabilizou que uma viagem da Flórida a Toronto passasse de 36 horas totais com 35% de self-driving em julho de 2016 para 29 horas totais com 80% de self-driving em dezembro de 2017.
Existe uma grande mudança no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos e na Europa, há mais de 162 milhões de trabalhadores independentes que produzem mais US$ 3 tri na economia. De acordo com a plataforma de trabalho UpWork, os trabalhadores freelancers poderão representar mais de 50% da força de trabalho mundial em 2027. Hoje, 42% dos millenials (18 a 34 anos) trabalham como freelancers e representarão 75% da força de trabalho em 2025.
Outro workshop muito marcante no Fórum foi o do Francisco Milagres da Mirach, representante da Singularity University no Brasil, que nos contou sobre a teoria descrita por Salim e aplicada em organizações exponenciais, resumida neste template de fácil usabilidade. Francisco enfatizou que softwares e plataformas dominarão o mundo e explica a importância de planejar sua organização exponencial, imaginando seu negócio daqui a 15 anos. Sua empresa tem capacidade de se adaptar? Entenda mais sobre o assunto de plataformas exponenciais neste link.
Enquanto o mundo se transforma e o Brasil apresenta PIB negativo, as organizações exponenciais não param de crescer. No passado, o segredo era a área comercial; no presente, é o produto; no futuro, o consumidor será o centro das atenções. Vide exemplo do Nubank, que tem seu foco no cliente e sua experiência, diferentemente dos bancos tradicionais que continuam focados em equipes comercias, negligenciando a experiência do cliente. Cristina Junqueira cofundadora do Nubank, contou no Fórum que o Nubank reduziu R$ 8 bilhões de custos de transferências (TEDs e DOCs) de seus 23 milhões de clientes pensando no que seria melhor para os clientes e não apenas para o banco, um grande diferencial. O Nubank foca primeiro na experiência, pois acredita que as instituições vencedoras serão aquelas capazes de reter clientes.
Gabriel Lima também comentou sobre essa mudança acelerada de comportamento da sociedade, amplificada pela pandemia, que deixou as empresas mais vulneráveis em suas estratégias digitais. O que era estratégico passou a ser urgente, exigindo adaptação de métodos de gestão. A mentalidade não é mais de comando e controle, mas de inteligência coletiva. Os lideres devem sonhar grande, ter um propósito claro, conhecer a estrutura de tecnologia, levar em conta as dimensões psicológica, sociológica e econômica para maximizar o desempenho das organizações exponenciais. Para ter melhor desempenho, líder digital precisa se comunicar bem e ter uma boa rede de relacionamentos. Leia mais sobre em lideres digitais. As mudanças alteram também a forma como as empresas veem o marketing, que agora evolui para o growth hacking, uma visão holística de marketing digital, design e produto orientada por dados. A Allidem, empresa de growth hacking, foi quem posicionou o 7º Fórum Liberdade e Democracia do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo e também nossa fintech A55, ajudando-a conquistar a rodada de investimentos Series A.
Mas, afinal de contas, como analisar se sua organização é ou poderá ser uma organização exponencial? Quais ferramentas, atividades e metodologias precisamos entender para superar toda essa transformação e adaptação?
Uma organização exponencial (ExO) é uma entidade cujo impacto é desproporcionalmente grande. Tendo um propósito de transformação massiva, pode ser avaliada por meio da metodologia criada pelos autores do livro, dividida em duas siglas, IDEIAS e ESCALA, capazes de avaliar um modelo escalável, veloz e inteligente que consiga atingir o sucesso exponencial. A base dessas empresas é a tecnologia da informação que desmaterializa o que antes era da natureza física.
A sigla IDEIAS representa o lado esquerdo do cérebro, com características de ordem, controle e estabilidade através dos seguintes elementos:
- (I) Interface;
- (D) Dashboards;
- (E) Experimentação;
- (A) Autonomia; e
- (S) Tecnologias sociais.
A segunda sigla, ESCALA, representa o lado direito do cérebro, com características de criatividade, crescimento e incerteza através das ferramentas:
- (S) Staff sob demanda,
- (C) Comunidade e multidão,
- (A) Algoritmos,
- (L) Ativos alavancados e
- (E) Engajamento, responsabilidades estas do time de ataque.
Vamos analisar cada uma delas resumidamente, começando pela última, SCALE.
Staff sob demanda: Não importa tanto o talento de seus colaboradores, busque analisar a eficiência de cada um deles, refletindo se é preciso desenvolver tudo internamente ou não, com equipes próprias. Hoje, muitas atividades/tarefas podem ser terceirizadas. As organizações exponenciais apresentam constantes mudanças e pivotagens ao longo de sua história, portanto, pense que, quanto mais ativos e colaboradores você tiver, mais difícil será mudar a estratégia e modelo de negócio de sua empresa.
Comunidade e multidão: Crie uma comunidade que acompanhe sua empresa, produtos e serviços. Comece pelas equipes internas e redes de contatos e expanda para usuários, clientes e ex-alunos. Em seguida, atinja fornecedores, parceiros e, por fim, pessoas que comporão a multidão. É mais difícil alcançar a multidão, pois ela é composta de pessoas fora do núcleo da comunidade.
Algoritmos: Crie algoritmos para executar com precisão tarefas projetadas com base em propriedades conhecidas, obtidas a partir de dados históricos. É a tecnologia que fará com que produtos e serviços sejam mais eficazes e eficientes. Entre os anos de 2013 e 2015, foram criados 9x mais dados que em toda a história da humanidade. Para implementar algoritmos em sua organização, siga esses quatro passos:
- reunir dados;
- organizar os dados;
- descobrir tendências; e
- expor os dados para que a comunidade possa utilizá-los.
Ativos alavancados: Não se preocupe com ativos. As organizações exponenciais são famosas por serem “asset light”. Investem menos em equipamentos ou bens físicos. Utilizam softwares e sistemas para crescer, aplicando o conceito de consumo colaborativo, descrito por Rachel Botsman e Roo Rogers. Quando precisar de um escritório ou espaço para desenvolver seu negócio, alugue não compre.. Você pode crescer a ponto de precisar de um espaço maior ou pode precisar mudar de localização para atender melhor seus clientes. Portanto, viabilize a flexibilidade.
Engajamento: Utilize técnicas de motivação e engajamento com colaboradores. Faça avaliações transparentes, desperte motivações positivas ao invés de negativas, dê feedbacks constantes e instantâneos. Crie regras e padrões, metas e recompensas, simples e autênticas, premie apenas resultados e não insumos.
Por outro lado, a sigla IDEAS resume cinco técnicas necessárias para criar uma Organização Exponencial, vide abaixo:
Interface: São automações com design de experiência, os famosos aplicativos ou até sites que controlam processos e permitem a escalabilidade. São utilizadas para filtrar e criar correlações entre determinantes de crescimento externo e fatores internos de estabilização. Por exemplo: o Uber, que criou a seleção de motoristas; o TED, que criou interfaces de avaliações e votações de palestras; o Waze que criou interfaces para indicar por onde dirigir.
Dashboards: São uma excelente ferramenta que possibilita medir dados e métricas de valor de seus clientes e colaboradores em tempo real. Compartilhe todas as métricas essenciais de sua empresa de forma transparente com todos os membros da organização. Acompanhar e disponibilizar por dashboards os OKRs – Objetives and Key Results (ou Objetivos e Resultados-chave) – de sua empresa é um método ágil e eficiente para colocar sua organização na mesma página e buscar o alto crescimento. Os objetivos são os sonhos/as metas, enquanto os resultados-chave, os critérios de sucesso que medem o progresso de sua organização. Leia mais sobre o tema no artigo escrito por Eduardo Miki no livro Pioneirismo do 7 Fórum Liberdade e Democracia do IFL-SP, disponível gratuitamente em pdf e ebook. Outros exemplos de métricas a disponibilizar em dashboards são os KPIs que devem ser determinados de cima para baixo (top-down), enquanto os OKRs devem ser determinados de baixo para cima (bottom-up). Mensure tudo que for possível.
Experimentação: Meça constantemente as experiências de seus clientes-usuários e, em seguida, realize um experimento para saber se o produto proposto corresponde às necessidades dos mesmos. . Pergunte-se:
- O produto atende a necessidade do cliente?
- Como o cliente resolveu um problema ou necessidade no passado?
- Quais são os custos atuais criados pelo problema do cliente?
Assim, conseguirá maximizar a captura de valor e disponibilizar sua solução mais rápido no mercado. .
Autonomia: Dê autonomia às equipes, tornando-as multidisciplinares. Isto é, estabeleça uma autoridade descentralizada, definindo equipes e não cargos. Dar autonomia às pessoas com iniciativa de sua organização aumenta a responsabilidade e agilidade de sua empresa. Deve-se incentivar os colaboradores a trabalhar, pelo menos, 30% de seu tempo em projetos próprios.. Leia o artigo que escrevi sobre o SCRUM, em que aprofundo esse tema. Cuidado com especialistas! Como diz o velho ditado, o especialista é alguém que explica por que algo não pode ser feito. As melhores invenções ou soluções raramente vem de especialistas, mas de pessoas que, olhando de fora, trazem uma nova perspectiva, “fora da caixa”. Tecnologias sociais: Tecnologias sociais. São responsáveis por criar interações horizontais em empresas verticalmente organizadas. A equação é a seguinte: CONEXÃO + ENGAJAMENTO + CONFIANÇA = TRANSPARÊNCIA. Busque facilitar a tomada de decisão com conversas mais rápidas e troca de informações com equipes em ciclos de decisão mais rápidos. .
Todas essas ferramentas servem para criar e analisar uma organização exponencial. Ela deve ter, pelo menos, quatro atributos, dois do lado esquerdo e dois do lado direito. Após entender os fundamentos é possível descobrir o cociente ExO de sua organização e saber o quão alinhada sua empresa está com uma organização exponencial: é só acessar o seguinte link.
Parece complexo, mas todas essas dicas são resultados de muitas pesquisas, estudos e análises de cases de sucesso que fizeram com que Salim Ismail, Michael Malone e Yuri Geest, compilassem os resultados que apresentam grande correlação com os unicórnios tecnológicos (empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), que seguiram essas metodologias para chegar aonde chegaram. 60% das startups unicórnios são plataformas digitais. Em nossa fintech, A55, balizamo-nos também nessas ferramentas para fazer uma boa análise de negócios para financiar através de empréstimos o crescimento de muitas startups brasileiras, potenciais organizações exponenciais.
[1] https://blog.openexo.com/the-rise-of-the-exponential-organization-new-companies-that-are-10x-better-faster-and-cheaper
*Graduado em Engenharia de Produção pelo Instituto Mauá de Tecnologia, pós-graduado em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo Insper, sócio da Fintech a55, advisor da Allidem, gerente e associado do IFL-SP.