*Por Dayanna Rodrigues – IFL SP
Em uma manhã recente, estava a caminho de um evento com uma abordagem que gosto que era algo como “O futuro dos lideres”. Estava animada, pois era um evento organizado por uma consultoria focada em desenvolvimento humano que eu super admiro.
Chegando lá, bastante entusiasmada com tudo que poderia aprender, gerar novos insights uma frase me marcou: “Líder é aquele que vai na frente”.
O evento continuou, em certo momento, um diretor de RH de uma grande empresa, pediu a palavra para fazer algumas provocações, entre elas, ouvi: “o capitalismo é de fato o caminho seguro para humanidade?”
E o líder daquela consultoria, se eximiu da resposta e mudou de assunto.
Eu não consegui me calar, pedi o microfone e falei “É graças ao capitalismo que o mundo de hoje está evoluído, avançado, temos maior oferta e opções de compra, menos monopólio, conseguimos satisfazer nossas necessidades com diversas ofertas de preço e tipos de fornecedores, o mundo gera mais riqueza, está mais próspero…
Segundo Ayn Rand: “A justificação moral do capitalismo repousa no fato que ele é o único sistema coerente com a natureza racional do homem, que é o único a proteger a sua sobrevivência, e cujo princípio fundamental é a justiça.”
E continuei, “não acredito que o capitalismo canibalista seja excelente, acredito num caminho mais sustentável, consciente… Mas não existe outra alternativa para a sociedade, a não ser o capitalismo consciente.”
O capitalismo consciente é uma filosofia de negócios desenvolvida por John Mackey, cofundador e CEO da Whole Foods Market, e Raj Sisodia, especialista em gestão e professor da Babson College.
Eles definem o capitalismo consciente como uma “maneira de pensar sobre o capitalismo e os negócios que reflita sobre onde estamos na jornada humana, o estado de nosso mundo hoje e o potencial inato dos negócios para causar um impacto positivo no mundo”. No livro (Capitalismo Consciente,O espírito heroico dos negócios – Por John Mackey, Rajendra Sisodia · 2018)
Devolvi o microfone, vi alguns olhares me atravessando, achei que ia passar. Tocou o gongo e todos fomos conduzidos ao almoço.
As pessoas foram se agrupando, de repente, fiquei sozinha, num lugar onde 80% eram pessoas da mesma área (RH, Gente e Gestão, Cultura), teoricamente mesma decisão de carreira, mesmo desejo de impacto, mas a minha opinião era divergente e adivinhem só: fiquei excluída! Almocei sozinha e foi assim durante todo o evento.
Esse texto não é de forma alguma um tipo de vitimização. Pelo contrário, são sinais claros de polarização e intolerância a visões e pensamentos divergentes.
Que mundo é esse que estamos construindo? Sempre valorizamos a capacidade humana e criativa e agora, sorrateiros, tímidos – invalidamos e desprezamos pessoas que pensam diferente de nós.
Uma área que defende o cuidado com outro, que diz colocar pessoas no centro, mas que se sua opinião for divergente do grupo, não é bem vinda, não é aceita e sim, você sofrerá consequências por se posicionar.
Seja fechando portas para potenciais clientes, seja o cancelamento por ter opiniões divergentes. Eu resolvi correr esse risco. Eu decidi me expor e me responsabilizar por essa decisão.
O que há de mais poderoso na relação humana é a nossa capacidade de pensar criticamente. Ter pontos de vistas distintos e entender o processo lógico de como o outro funciona.
“o direito de concordar com os outros não é um problema em nenhuma sociedade.
O direito de discordar é crucial. É a instituição da propriedade privada que protege e implementa o direito de discordar e, assim, mantém o caminho aberto para o atributo mais valioso do homem:a mente criativa.Essa é a diferença cardinal entre o capitalismo e qualquer forma de coletivismo” – Ayn Rand.
Não é sobre se agrupar e viver em uma bolha onde todas as pessoas pensam como você!
Como você vai se desenvolver com acesso tão limitado? Como você vai inovar, com perspectivas tão semelhantes às suas?
A inovação é gerada e potencializada por pensamentos distintos que enxergam diferentes funcionalidades e soluções, às vezes a partir do mesmo ponto de partida, mas permite divergir para convergir.
Certa vez, numa atividade com um grupo de estagiários, entregamos uma concha de feijão, (utensílio doméstico de cozinha) e o desafio do grupo era encontrar seis funções distintas para aquele objeto. O objetivo da atividade era explorar o potencial criativo dos estagiários e pasmem, surgiram funções hilárias, divertidas e que faziam muito sentido.
Murilo Gun fala que criatividade é a imaginação aplicada para resolver problemas. É da raça humana. Podemos escolher entre a memorização, que é repetir padrões, e a imaginação, quando você cria uma nova possibilidade”.
E o que nós estamos fazendo com nosso potencial criativo, com nossa liberdade criativa?
“A responsabilidade do homem ainda vai além: um processo de pensamento não é automático, nem instintivo, nem involuntário e, muito menos, infalível. O homem tem que iniciá-lo, sustentá-lo e assumir a responsabilidade por seus resultados. Ele tem que discernir o que é verdadeiro ou falso e descobrir como corrigir seus próprios erros”. (The Objectivist Ethics, 1961).
Acredito que o que falta nas organizações, entidades, grupos, comunidades onde estamos inseridos, é o incentivo a liberdade de expressão, a liberdade de exposição. Que também passa pela segurança psicológica que hoje, por mais ênfase que o tema esteja, é pouco praticada.
Se você discorda da opinião política de alguém da sua família, a mensagem é clara: “faça-me um favor, pare de me seguir” “estou bloqueando você, porque se você não pensa como eu, está contra mim”.
Vivemos um cenário complexo e ao mesmo tempo, presenciamos as maiores e mais disruptivas inovações no mundo.
A liberdade de expressão está ligada ao direito de manifestação do pensamento, possibilidade do indivíduo emitir suas opiniões e idéias ou expressar atividades intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação, sem interferência ou eventual retaliação do governo.
Em pleno século XXI, em um mundo globalizado, num contexto onde temos disputas para quem vai dominar as corridas espaciais, ver nossa liberdade oprimida, ameaçada não combina com a evolução e tudo que a humanidade superou para chegar até aqui.
O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos define esse direito como a liberdade de emitir opiniões, ter acesso e transmitir informações e ideias, por qualquer meio de comunicação.
Contei a minha história para te encorajar a se posicionar. Se não fizermos nada agora, pode ser tarde demais. Não podemos deixar passar, é nosso direito.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Eu não acredito que com esse depoimento eu vou mudar o mundo, mas acredito e exerço o meu direito de liberdade, saindo da zona de conforto e me posicionando em prol de uma sociedade mais justa, livre e próspera. É o legado que idealizo para os meus filhos, meus netos e para toda a geração, que virá.
Entendo que nossa missão é entregar à próxima geração um futuro e uma realidade melhor do que a recebemos.
Não seja covarde, não tenha medo. Se tiver medo, se prepare. Mas não seja omisso.
E o que a frase que comecei tem a ver com tudo isso?
Líder é aquele que vai na frente. Líder é aquele que não espera alguém pedir. Que se antecipa, que testa maneiras diferentes de fazer algo, pensando em novas soluções.
Inovar é transformar o seu meio. Então, mãos à obra.
“ A Liberdade nunca está a mais de uma geração de sua extinção. Não a transmitimos aos nossos filhos pelo sangue. Devemos lutar por ela, protege-la e entregá-la a eles para que façam o mesmo” Ronald Reagan